A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) considerou hoje que o quadro social angolano é marcado por uma “pobreza assustadora, perda de poder de compra, desemprego galopante e degradação de hábitos e costumes”. Em síntese: Parabéns MPLA, parabéns general/Presidente João Lourenço.
Para os bispos católicos, que na última semana estiveram reunidos em Assembleia Plenária, na província de Benguela, o quadro social em Angola é também marcado pelo vazio de diálogo entre os partidos e a sociedade civil e elevados níveis de intolerância. Em síntese, e mais uma vez: Parabéns MPLA, parabéns general/Presidente João Lourenço.
“É preciso muita ponderação e diálogo e tudo deve ser feito para que os partidos não sejam mais importantes do que a nação”, apelam os bispos, segundo o comunicado de imprensa, lido pelo porta-voz da CEAST e bispo da diocese de Cabinda, Belmiro Tchissengueti, no final do encontro.
Os bispos reiteraram que a situação da seca e da fome em muitas regiões do país, sobretudo no sul, exigem a declaração do estado de emergência, por forma a propiciar a ajuda internacional.
Na conferência de imprensa, o bispo Belmiro Tchissengueti disse que Angola é parte da comunidade internacional e honra os seus compromissos internacionais, com o pagamento de quotas.
“Justamente com esta participação nessas organizações, sendo elas multilaterais, em momentos de dificuldades, podemos fazer recurso a tais organizações, mas claro que para ter acesso aos recursos dessas organizações internacionais é preciso que haja uma declaração de um Estado de Emergência específico e no caso concreto estamos a ver que a fome está de facto muito acentuada”, disse.
Faltou acrescentar que a Igreja Católica angolana tem sido cúmplice, há 46 anos, do regime imposto pelo MPLA e do qual, aliás, beneficiou. Já para não falar da sua missão de dar voz a quem a não tinha, e continua a não ter.
Belmiro Tchissengueti frisou que o sul do país vive uma seca severa nos últimos três anos, pelo que, considerou, “está o ambiente criado para se declarar o estado de emergência” e possibilitar a ajuda internacional de que os angolanos carecem.
Segundo o prelado, não seria a primeira vez que o país beneficiaria de ajuda, mas é preciso humildade e reconhecimento que o país precisa de apoio.
“Para que se salve vidas humanas e se possa dar novo alento de esperança para o povo”, disse o bispo, realçando que a ajuda deve ser feita em duas dimensões.
“Por um lado, emergência para se suprirem situações de emergência, mas também ajudar para que possamos nós aprender a produzir aquilo que nós consumimos. Temos um grande país e abençoado por grandes rios, terras aráveis e riqueza abundante, que deveria, com um pouco mais de esforço, ser também exportador para outros países e não apenas consumidor daquilo que se recebe”, frisou.
Aos políticos, Belmiro Tchissengueti sublinha que a ajuda deve ser feita sem aproveitamento político.
O bispo salientou que a democracia contribui para o bem da nação, devendo dirigentes e cidadãos ter um alto sentido de responsabilidade, apelando a um investimento na educação cívica dos cidadãos, evitar o absentismo, pautar pela honestidade, transparência e justiça de todo o processo.
“A campanha eleitoral será melhor se houver respeito mútuo sem fanatismos, devemos ser construtores de pontes e não de muros”, apelou.
Ética é fundamental? Deve ser por isso que foi assassinada!
Recorde-se o que o arcebispo católico da província do Huambo, Dom José de Queirós Alves, afirmou há mais de sete anos, que a que a ética é fundamental para edificação de uma sociedade fraterna. É claro que que só é fundamental se… existir.
Discursando no encerramento do XIII Congresso Nacional do Instituto de Ciências Religiosas de Angola, o prelado disse que a ética é um valor que faz com que as pessoas sejam verdadeiramente humanas e se envolvam na construção de comunidade solidária, onde se respeitam os valores morais e cívicos.
“Angola está num momento de grande evolução na sua transformação, nos aspectos da indústria, economia e estruturação social, mas carece de uma dimensão social dos seus cidadãos para que possa crescer harmoniosamente. Isso só é possível através da ética”, realçou.
O arcebispo do Huambo disse então ser importante a formação humana para o alcance dos verdadeiros fundamentos que dão estabilidade aos valores humanos.
Acrescentou ainda que o país precisa de pessoas estruturalmente formadas, com capacidades para orientarem as diferentes estruturas sociais para levar os destinos de Angola para um caminho cada vez mais justo, onde todos os angolanos se comprometam a consolidar a paz e juntos participar nos projectos que possam prosperar a nação angolana.
Em Julho de 2012, ano de contagem de votos (eleições são algo diferente) o arcebispo do Huambo disse, falando à população de Chilata, município do Longonjo, que o povo angolano tem muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade.
“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.
Dom José de Queirós Alves pediu então aos crentes e à população em geral para pacificarem os espíritos, amor ao próximo e o perdão para a construção de famílias e sociedades fortes e firmes.
Dom José de Queirós Alves, ao contrário do que é divulgado pelos pasquins do regime, tem dito muitas outras coisas.
”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, Dom José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.
Dom José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça, e pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (tudo continua na mesma), Dom José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
Dom Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.
A cumplicidade da Igreja Católica
Sob o título “Louvados sejam os que, aqui e agora, não temem a verdade”, o Folha 8 publicou no dia 11 de Março de 2015 (não é engano. Foi mesmo em 2015) o artigo que segue na íntegra e ipsis verbis:
«Os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) manifestaram hoje a sua preocupação com a subida de preço dos produtos básicos, do desemprego e da delinquência em consequência da crise económica que Angola vive.
A actual situação de crise, provocada pela queda do preço do petróleo, foi hoje referida pelo presidente da CEAST, Gabriel Mbilingui, no seu discurso de abertura da primeira Assembleia dos bispos de Angola e São Tomé, a decorrer na província do Moxico até à próxima quarta-feira.
Gabriel Mbilingui, que é também arcebispo da diocese do Lubango, considerou a crise económica o “verdadeiro calcanhar de Aquiles, que atingiu profundamente Angola”, cujas consequências já se fazem sentir “pesadamente na vida dos angolanos e não só, sobretudo os mais pobres”.
“Bastaria citar como exemplos, a subida de preço de todos os produtos básicos, o aumento do desemprego e do presumível aumento da delinquência”, lamentou.
Segundo o bispo, muitos jovens estão a ver a sua formação académica, moral e espiritual, “fortemente ameaçada, pela corrupção que vê, na grave situação social, uma porta escancarada para a sua acção devastadora”.
A nível social, os bispos da CEAST sublinham que continua o desafio da consolidação da paz, da reconciliação nacional, da implementação de uma verdadeira democracia, da justiça social para a construção duma Angola nova em todas as dimensões.
No encontro de uma semana, os bispos vão apresentar o esboço da Nota Pastoral alusiva às celebrações dos 40 anos da Independência de Angola, o esboço da mensagem “A Paróquia, centro da irradiação da Nova Evangelização” para o ano 2016, último do actual triénio de pastoral da CEAST, e a preparação da Assembleia Plenária do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM), a ter lugar em Julho de 2016, em Angola.
O ponto de situação relativo ao processo de extensão da emissora católica angolana, Rádio Ecclesia, ao resto do país “na senda duma comunicação social que a Constituição de Angola e os angolanos querem ver mais plural e mais respeitadora dos seus legítimos direitos neste campo”, vai ser merecer análise dos bispos nesse encontro.
A este propósito, façamos um exercício de retrospectivo a Junho de 2014 altura em que Gabriel Mbilingui, para desespero do regime e gáudio dos nossos oprimidos, que são cada vez mais, foi eleito como novo arcebispo de Luanda, numa votação em que terá obtido cerca de 94% dos votos.
As autoridades (lato sensu) bem fizeram tudo, incluindo uma vasta campanha a favor de um outro “seu” candidato, obviamente mais dócil e formatável. Não resultou. A integridade moral, ética e sacerdotal deste prelado rechaçou todas as tentativas de “assassinato” religioso, político e social.
Tal como mandam as regras da Igreja Católica, Gabriel Mbilingui mostrou que a palavra de Deus tem de ser, no nosso país, resgatada no sentido de se comprometer, até mesmo correndo riscos de vida, com aqueles a quem deve contas: o Povo.
Sobram os exemplos de coerência cívica e equidistância política de Gabriel Mbilingui. Com um carisma à prova de bala, resistiu galhardamente às investidas do regime para que mudasse Alves da Rocha, Artur Pestana, Bonavena, e Vicente Pinto de Andrade da Universidade Católica. Não só os manteve como, com o seu apoio, foi nomeado um novo reitor, vindo do Moxico.
Mas se o Povo está satisfeito, a própria Igreja Católica angolana pode também regozijar-se, mesmo que o faça no segredo do confessionário, em relação a este Homem que foi nomeado por sua santidade o Papa Francisco, como o seu representante para África, coordenando todas as conferências episcopais.
Dom Gabriel Mbilingui sempre foi coerente, não temendo dizer a verdade, preferindo sempre ser salvo pela crítica do que assassinado pelo elogio, uma das especialidades do regime. O Povo bem se lembra de que foi ele quem disse que “é preciso reduzir o fosso entre ricos e paupérrimos”. O regime fingiu não o ouvir. Quis comprá-lo. Mas, é claro, ele não está à venda.
Dom Gabriel Mbilingui, embora saiba que as suas sacerdotais pregações se esvaem como gotas de água no deserto do Namibe, nunca se cansa de dizer as verdades, auspiciando que os responsáveis políticos do país percebam, de uma vez por todas, que quem não vive para servir não serve para viver.
Dom Gabriel Mbilingui reconhece, até porque certamente acredita que, ao contrário do regime, ninguém é dono da verdade, avanços na construção e reabilitação de infra-estruturas para o desenvolvimento do país, mas avisa que há um longo caminho a percorrer. Isto porque, embora às vezes se pense que não, o país tem pessoas dentro. Pessoas que, mesmo com a barriga vazia, sentem e amam o seu país.
Dom Gabriel Mbilingui aponta a injustiça social, manifestada pelo grande fosso entre ricos e pobres e a ausência do aprofundamento da democracia, como males que perigam a Angola pós-independência. O regime, claramente, não vai à missa deste prelado. Mas o Povo vai.
Por cá, temos uns poucos de privilegiados que têm muitos milhões e, é claro, muitos milhões que têm pouco ou nada. Quanto à democracia, apesar de reconhecermos os seus méritos, Dom Gabriel Mbilingui está errado. E está errado porque só se pode aprofundar algo que se tem, algo que exista.
“Esse fosso ainda é muito grande e nós deveríamos unirmo-nos cada vez mais em volta desta questão. Trata-se da sobrevivência do próprio país também. Se nós optamos pelo sistema democrático há que ir a fundo neste sistema democrático, há que respeitar isso porque se não acabarem as injustiças sociais estamos a construir sobre a areia,” diz Dom Gabriel Mbilingui.
É, no entanto, caso para dizer que as vozes dos humanos não chegam ao céu dos que dominam o regime esclavagista que desde 1975 continua a oprimir um Povo, aquele que deveria ser o seu Povo.
O também presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, CEAST, defende que os ideais que levaram à luta pela independência devem ser preservados, dizendo ainda que acredita na vontade das forças políticas do país em democratizar Angola.
Dom Gabriel Mbilingui exige, neste contexto político, que a voz da Oposição seja não só ouvida como também respeitada. É por isso que se insurge contra a inabilidade do Governo em resolver a questão de atribuição de direitos de transmissão por todo o país à Rádio Eclésia, um processo que se arrasta há vários anos.
Segundo o prelado católico, o país precisa de uma verdadeira instauração da democracia e isso passa pelo reconhecimento e respeito pelas diferenças, do ponto de vista de pensamento e de opinião, factores que qualifica de importantes em processos democráticos.
Dom Gabriel Mbilingui toma como exemplo as propostas partidárias da Oposição que devem ser tidas em conta pelo partido no poder, porque elas representam uma franja importante da sociedade.
“O importante mesmo no sistema democrático não é só reconhecer a existência de alguém que pensa diferente de mim, mas respeitar esta sua opinião, essa sua posição, porque ela corresponde a uma boa parte do cidadão angolano,” diz Dom Gabriel Mbilingui.
Gabriel Mbilingui mostra-se, por outro lado, agastado com o problema da extensão do sinal da Radio Ecclésia no país e atribuiu culpas ao Governo que se tem mostrado “incompetente” para resolver o problema da regulamentação da lei de imprensa.
“Como é que a autoridade competente em relação a este ponto da Rádio Ecclésia se mostra – passe a expressão verdadeiramente incompetente?” interrogou Dom Gabriel Mbilingui, acrescentando que a situação deixa a igreja “perplexa”.
No plano internacional, Dom Gabriel Mbilingui também criticou os governantes africanos que pretendem retirar os seus países do Tribunal Penal Internacional (TPI), alegando que o Ocidente visa apenas incriminá-los por corrupção. Sem meias palavras, disse “esperar mais e melhor dos líderes africanos”, considerando que a corrupção é um mal em África que “tem dificultado as vidas de milhões de africanos”.
De acordo com Dom Gabriel Mbilingui, é só por si um crime abandonar o TPI, tribunal que é a instância por excelência também para resolver os crimes de corrupção que, por sua vez, estão umbilicalmente ligados a outros contra a humanidade.
Dom Gabriel Mbilingui reconhece que pode ser mal entendido pelos políticos, mas apontou que a verdade como a única forma de se curarem feridas e se lutar por um país, por um continente, melhor.
Em matéria internacional, a tese de Dom Gabriel Mbilingui é partilhada pelo Bispo Demonsd Tutu que considerou estarem os lideres africanos a oficializarem a morte do povo africano, sobretudo porque enchem os seus bolsos em troca do sofrimento do povo.
Dom Gabriel Mbilingui é visto internacionalmente como alguém que se tem batido pelo bem estar dos povos, nomeadamente dos angolanos, não temendo criticar o regime de José Eduardo dos Santos, curiosamente catalogado por diversas entidades mundiais como dos mais corruptos do mundo.»